CAMINHOS DA ESTRADA DE FERRO BELÉM-BRAGANÇA

RESUMO:

 No intuito de colonizar e desenvolver a Região Bragantina (no Estado do Pará) e fornecer produtos agrícolas para Beléma capital do Estado, o Governo inicia a construção da "Estrada de Ferro de Bragança" (EFB). Foram 80 anos de funcionamento, transportando em 222 km não só mercadorias mas esperança e muitas vidas ao longo das extensas vilas agrícolas paraenses.


A locomotiva Maguary na estrada na cidade de Marituba
 A "Estrada de Ferro de Bragança" ou "Linha de Trem Belém Bragança" é a mais conhecida entre as três estradas de ferro no estado do Pará e funcionou com sua extensão máxima de 1908 a 1964 ligando a estação de São Brás na capital Belém à cidade de Bragança.

HISTÓRIA:


 A ferrovia começou a ser construída em 1883 e inaugurado em 1884 seu primeiro trecho, de 29 km, entre a estação São Brás e a cidade de Benevides.


 Em 1885 ganhou outros 29 quilômetros e atingiu a localidade de Itaqui, próxima a Castanhal, mas, as obras de construção ficariam paralisadas até 1901. Somente em 1908 a estrada atingiria a cidade de Bragança, chegando à sua extensão máxima.


 Esta Pertenceu ao Governo do Estado do Pará até 1936, quando foi entregue à União Federal. Em 1957 foi uma das ferrovias da Rede Ferroviária Federal, que desativaria suas linhas alguns anos depois.


 A ferrovia possuía também 3 ramais: Ramal do Pinheiro (em Icoaraci - Belém), Ramal de Benfica (Santa Bárbara do Pará) e Ramal de Prata (Santa Maria do Pará).


ESTAÇÕES:


Belém Porto – 0 km Belém São Braz – 5,34 km Belém Entroncamento – 10,88 km
Tapanã (Parada) – 18,480 Km Ananindeua (Parada) – 19,121 km Benjamin Constant – 19,175 Km
Sumauma (Parada) – 20,050 Km Prata – 20,777 Km Tenoné (Parada) – 20,800 Km
Prata – 20,777 KmMarituba – 22,55 kmMaguary (Parada) 26,306,90
Pinheiro – 26,457,18 Km Canutama (Parada) – 30,397 km Benevides – 33,228 km
Moema (Parada) – 42,97 km Santa Izabel – 46,038 km Americano – 58,34 km
Apeú – 66,513 km Km 72 (Parada) - 71,17 km Castanhal – 73,86 km
Km 80 (Parada) – 79,855 km Anhanga – 88,703 km Granja Eremita (Parada) – 100 Km
Jambu-açú (Parada) – 108,854 Km Igarapé-açú – 116,402 Km 1° Caripy (Parada) – 121,368 Km
2° Caripy (Parada) – 124,813 Km São Luiz – 133,571 Km Livramento (Parada) – 139,606 Km
Timboteua – 151,560 Km Peixe-Boi – 161,704 Km Capanema – 179,92 km
Tauari (Parada) – 196,568 Km Quatipuru 207,982 Km Tracuateua (Parada) 215,86 Km
Rio Branco (Parada) – 220 Km Bragança 233,18 Km X

CRONOLOGIA:

1848 – Governo Imperial doa ao Governo Provincial 06 léguas de terras distantes de Belém, para ser demarcado e povoado. 

1870 - Inicio das negociações sobre a construção de uma ferrovia, que deveria ligar Belém a São Luiz.

1875 – Foi empossado o Presidente Provincial Francisco Maria Correa de Sá e Benevides. Uma das prioridades de governo era colonização e imigração na área da EFB. Fizeram grande propaganda inclusive no exterior.

Chegaram os primeiros 68 imigrantes em abril. 

– Festa de inauguração da Colônia "Nossa Sra. do Carmo de Benevides", com 50 colonos com maioria franceses. Benevides virou inspiração para as novas colônias na região. 

1877 – Extinção da Colônia de Benevides, por Ministério da Agricultura, pois a manutenção era dispendiosa aos cofres públicos. Mas o Presidente de Colonização  Antônio Gonçalves Nunes, determinou que a colônia não fosse totalmente desativada, permanecendo 17 famílias. 

– A seca assolou o nordeste, 800 flagelados foram transferidos para as terras de Benevides. O capitão Valentim José Ferreira foi procura-lôs. 

– Os lotes 73 à 76 da colonia de Benevides foi escolhido por Valentim José Ferreira e Izabel como sua moradia. Izabel doava remédios para os doentes nordestinos locais, passou a ser chamada de Santa, dando origem mais tarde ao nome do lugar (Santa Izabel). 

1878 – Chegada mais 12.500 nordestinos a colônia de Benevides. 

1883 - Após várias demoras e desistências, a obra da ferrovia EFB começou.

1884 – Inaugurado em setembro o 1º trecho da EFB de 29 Km, entre São Brás e Benevides. Na ocasião foram libertos escravos na colônia de Benevides.

- Criada a parada em Ananindeua (terra de árvores grandes).

1885 – Em outubro Tristão de Alencar Araripe asume o Governo da Província, deu inicio a demarcação do Núcleo de Araripe (atual Americano) com 30 lotes, para 21 famílias açorianas. 

- Ferrovia ganha mais 29 km, chegando na região de Itaqui (próxima a Castanhal), com novas paradas em Apeú e Santa Izabel dando início a ocupação efetiva do território.

1887 – Construção do prolongamento da ferrovia até o Jardim Público (3.500m) da Estação São Braz à Estação Central de Belém na Av. 16 Novembro.

1888 – Inauguração do prolongamento São Braz-Central (José Bonifácio, Gentil Bitencourt, Rui Barbosa, Mundurucus, Batista Campos, Ângelo Custódio, 16 de Novembro). 

- As obras da outra parte da ferrovia, até Bragança, ficaram paralisadas até 1901, devido implantação do novos núcleos coloniais.

– Outra seca atinge o nordeste, 3.480 flagelados foram transferidos para o Núcleo de Araripe (atual Americano).

americano Thomaz Kellmon construiu um engenho de cana de açúcar no Núcleo de Araripe. Thomaz distribuía quinino para tratamento de malária dos doentes locais. Tornou-se referência, as pessoas diziam: "Vou no americano" e "Moro no americano", dando origem mais tarde ao nome do lugar (Americano).

1893 – Implantação do núcleo colonial de Castanhal (região de planície com imensos pastos naturais) conhecida pelos boiadeiros que passavam com destino a Belém). 

1894 - Criação da parada de Maracanã (rio Maracanã), como ponta de um trecho construído a partir de Castanhal. 

1895 – Criação do núcleo colonial de Marapanim e núcleo de Jambu-Açu. 

– A ferrovia ao chegar no povoado de Timboteua (lugar de cipó trepador) gerou um êxodo do núcleo e extinção em 1906. Surgindo um novo povoado as margens da ferrovia no Km 147, a "Nova Timboteua".

1898 – Fundação do núcleo colonial de Santa Rosa. 

Criação do núcleo colonial José de Alencar, território desmembrado de Marapanim. 

– Criação do núcleo colonial Anita Garibaldi, na margem da estrada Castanhal-Curuçá.

– Criação do núcleo colonial de Inhangapy (3 km de Castanhal). 

- Governo do Estado para desenvolver pequenas propriedades rurais, estabelece concessões para a criação dos Burgos Agrícolas, como o Burgo de Santa Rita do Caranã e Burgo Granja America. 

1899 – Implantação do núcleo de Ianetama (19 Km de Castanhal). 

– Santa Izabel foi elevada a categoria de Vila (imensa gleba para implantação agrícola, situada à margem do antigo varredouro dos índios tupinambás).

1903 – Criação da parada de Anhanga (cidade de visagem ou fantasma) – atual São Francisco do Pará no Km 95 - com a abertura do trecho de Apeú a Jambu-Açu

– Criação da estação na Vila do Livramento (entre São Luiz e Timboteua). Passa sob uma ponte de ferro sobre o rio Maracanã.

– Aprovado o projeto para a construção das oficinas de Marituba (lugar abundante de marís). A gleba de Marituba era extensão do núcleo de Benevides. No local havia uma fábrica de papel (destruída em 1898). Marituba foi entregue ao governo para pagamento de seu débito e repassada à ferrovia EFB para construção das oficinas mecânicas que funcionavam na estação São Braz. 

1904 – Criação da estação de Igarapé-Açu (caminho de canoa). 

1905 – Inicio da construção da Vila de Marituba e sua estação. 

1906 – Inaugurado o Ramal do Pinheiro em Icoaraci. 

1907 – Inaugurado a Vila e a estação de Marituba. 

– Criação da primeira estação em Santa Izabel. 

– Inaugurado o trecho de Peixe-Boi (Km 163), a Estação Experimental e a estação de Bragança.

1908  A ferrovia EFB finalmente chegaria a cidade de Bragança. Avançou mais 31 km chegando à sua extensão máxima.

- Inaugurado o prologamento até a Cachoeira (Quatipuru) atual Miraselva no Km 211, se tornando a 1ª parada da ferrovia na região bragantina. Pertencentes ao núcleo de Capanema (terra azarada ou caça escassa).

– Criação do assentamento de Tracuateua (local abundante de tracuá) e a parada no Km 221.

– Augusto Montenegro fez uma viajem de teste na ferrovia, dia 2 de abril partiu às 22h de Belém e chegou as 6h em Bragança. 

- Inaugurada a estação Raimundo Viana.

- Mudança, iniciou viagens diáriamente com saída as 5h da manhã e chegada as 15h. 


- Implantação do telegrafo junto aos trilhos, com função de avisar se havia pessoas para embarcar nas estações. 

1910 - Criação de alguns ramais, como de Benfica e de Benjamim Constant (estação de Sapucaia).

Obs.: Embora os governos tivessem levado a termo a construção da ligação ferroviária, excetuando-se dois curtos períodos, entre 1916 e 1920, e 1922 e 1925, as operações da EFB jamais foram superavitárias.

1921 Mudança, inicia a política de contenção de gastos. 


- Aumento das tarifas para melhorar a manutenção da ferrovia, após análise dos preços dos produtos das lavouras bragantinas com os custo para transporte. 


- Discussão da possibilidade de encampação da ferrovia pelo governo federal.

1922 – A responsabilidade da ferrovia passa do Governo do Estado do Pará para o Governo Federal. 

1930 – Juarez Távora Ministro da Aviação e líder da revolução nacional (Era Vargas), por imposição das Forças Armadas do Pará, designou Magalhães Barata para Interventor Federal.

1938 - Ananindeua se torna sede distrital, pertencendo ao município de Santa Isabel do Pará,


1944 - Ananindeua é elevado a Município (atividades de extração de argila e areia)

1956 – Juscelino Kubitchcheck através do Plano de Metas intensificou a expansão da "Rede Rodoviária Nacional". 

1957 – A ferrovia da "Estrada de Ferro de Bragança" foi incorporada a "Rede Rodoviária Nacional",

1960 – Estabelecido o Ramal entroncamento até o porto de Belém pela Av. Pedro A. Cabral.

– Construção da Rodovia BR-010 (Belém-Brasília), na mesma época a EFB foi inserida no Plano de Extinção de Transportes, para desativação da ferrovia. 

- Surgem as primeiras estradas rodoviárias, como exemplo a Rodovia BR-316

- A diminuição de passageiros da ferrovia causou queda no faturamento gerando déficit. Isto virou a arma de vingança do general Juarez Távora (Ministro do Governo Militar) ao povo do Pará pelo o acontecido de 1930. 

1964 – Juarez Távora (Ministro dos Transportes do Governo Militar de Castelo Branco e Vice-Rei do Norte) estabele prazo final de funcionamento da EFB até dezembro de 1964. 

- Existiam 30 locomotivas, todas as cidades dependentes da ferrovia para escoar os produtos abriram estradas até a rodovia. 

- Juarez Távora alegou que a EFB era deficitária e ordenou a destruição de todas as locomotivas da ferrovia e das principais estações, restando apenas os prédios das paradas nas vilas. Os trilhos foram retirados e enviados ao local de origem, Fortaleza. 

- O Interventor Alacid Nunes destruiu a bela estação em São Brás e construiu a horrenda Estação Rodoviária.





MAPAS:


1. Belém Porto; 2. Belém São Braz; 3. Belém Entroncamento; 4. Ananindeua; 5. Marituba; 6. Canutama; 7. Benevides; 8. Moema; 9. Santa Izabel; 10. Americano; 11. Apeú; 12. Km 72; 13. Castanhal; 14. Km 80 ; 15. Anhanga; 16. Granja Eremita; 17. Jambu-açú; 18. Igarapé-açú; 19. 1º Caripy; 20. 2° Caripy; 21. São Luiz; 22. Livramento; 23. Timboteua; 24. E. Experimental; 25. Peixe-Boi; 26. Capanema; 27. Tauari; 28 .Quatipuru; 29. Tracuateua; 30. Rio Branco; 31. Bragança.



Mapa ampliado do trecho de Belém a Castanhal e Ramal de Pinheiro em 1919

Mapa da Capital Belém em 1889


Fontes:

Livro Trilhos o Caminho dos Sonhos - 2008 - De José Leoncio F. de Siqueira. 

Blog Adrielson Furtado - Memorias da Estrada de Ferro de Bragança - 2010 - De Adrielson Furtado

Livro Nas Dobras da Memória Oficial de Capanema - 2011- De Jerônimo da S. e Silva e Agenor S. Pacheco

Site Eu Bragantino - A Estrada de Ferro de Bragança


Site Estações Ferroviarias - Estrada de Ferro de Bragança - Estado do Pará Linha-Tronco e ramais


Livro Contribuição à Interpretação da Constituição do Campesinato na Zona Bragantina - 2010 - Leonardo M. de L. Leandro Fábio C. da Silva





Comentários
2 Comentários

2 comentários

E nada pode ser feito pelo governo atual para responsabilizar o governo federal por esta sandisse desse idiota que com o proposito e dolo destrui uma parte da hiztoria do meu povo do meu estado isso e um absurdo que algeum tem que pagar quer seja o governo federal ou i proprio estado do ceara

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Marechal Juarez Távora (Ministro da Aviação do Governo de Castelo Branco) extinguiu esta ferrovia sob mando do governo e alegação de déficit.

Então a culpa deve ser de Castelo Branco.

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