DICIONÁRIO NORTISTA - CAUSOS E DIALETO AMAZOFONIA

 Dialeto ou vernáculo, nome dado à língua nativa popular de uma região (língua vernacular). Devido a fatos históricos e ao vasto território do País, o português brasileiro possui diversas diferenças dialetais, inclusive no campo léxico.

 Séculos atrás os livros e estudos científicos, filosóficos e religiosos na Europa Ocidental eram tradicionalmente escritos em latim (língua litúrgica). Quando os trabalhos eram escritos em uma língua local, como italiano, espanhol, etc, eram denominados de livros em vernáculo (língua vernacular).

AMAZOFONIA OU AMAZONÊS
       O sotaque nortista é chamado de Amazofonia (Vernáculo Nortista) vulgarmente conhecido por Amazonês (abrange o parauara e manauara). Falado nos estados da região amazônica, ou seja, no norte brasileiro. Considera-se que tenha até quatro sub-dialetos: 
      - Cametaense, utilizado na região de Cametá e em algumas regiões da Ilha do Marajó;
      - Bragantino, falado na microrregião Bragantina;
      - Metropolitano, falado principalmente nas capitais Belém e Manaus e em suas regiões metropolitanas;
      - Cocais, uma junção dos dialetos nortista e cearense, falado principalmente no Maranhão, e em partes do Piauí e do Pará.

      As características principais do amazonês são:
      - As palavras não são faladas com ginga, como no sotaque carioca;
      - Não existe o uso de "você", as conjugações em segunda pessoa (tu);
      Concordância dos verbos com pronome de tratamento "tu fizeste", "tu és";
      - Substitui "ao" por "para", "ele vai pro cinema";
      Não usa dois "que" na mesma frase "quanto isso custa?" X "quanto que isso custa?"


       Apesar de soar como sotaque carioca para os paulistas, é nitidamente distinguível a diferença. Já que o paraense tem menos gingado e conjuga mais verbos como em Lisboa, como "foste", "chegaste", etc.

       Assista a reportagem: G1 Pará

      HISTÓRIA

       É sabido que a colonização do Brasil teve forte influência de Portugal. Quando chegaram aqui em nossas terras havia pelo menos 1.000 línguas indígenas. E começou o processo de substituição desta por uma padrão, a Língua Portuguesa

       Atualmente foram catalogadas 180 línguas indígenas faladas em território nacional, consideradas línguas co-oficias. Segundo o Instituto Socio-Ambiental apenas 11 línguas possui cinco mil falantes cada: Baniwa, Guajajara, Kaingang, Kayapó, Makuxi, Sateré-Mawé, Terena, Ticuna, Xavante, Yanomami e Guarani, esta última sendo falada por uma população 30 mil pessoas. 

       São Gabriel da Cachoeira, o maior municipio do país situado no Amazonas, é o primeiro a oficializar a prática das línguas indígenas Nheengatu, Tukano e Baniwa no seu cotidiano através da lei 145/2002, proposta pelo vereador indígena Camico Baniwa, a partir de um projeto elaborado pelo Instituto de Investigação e Desenvolvimento de Políticas Lingüísticas (IPOL). 

       Meios de comunicação, serviços públicos, escolas, placas de sinalização, comércio e bancos foram obrigados a usar a língua oficial e as três línguas co-oficiais. As leis e documentos públicos deverão ter versões em todas as línguas. 

       Fora a influência indígena e portuguesa, tivemos os holandeses, franceses e ingleses, em seguida vieram africanos. Esta adorável mistura resultou no que falamos hoje, denominado de Amazonês. 

      CINEMA AMAZONÊS
           Alguns anos atrás os sucessos cinematográficos foram exibidos na cidade de Abaetetuba (interior do Estado do Pará), porém não estavam dando público.

           O cinema local estava indo a falência. Para salvar os negócios o proprietário resolveu adaptar os títulos com palavras do 
          Amazonês local.

          Resultado, literalmente Bamburrou! Conheça:
          • Velocidade Máxima ~> Rápido pra Purra!
          • Duro de Matar ~> Escruto de Murrer;
          • Esquecerema de Mim ~> Me Deixaro Sú;
          • Coração Valente ~> Curação Presepeiro;
          • Free Willy ~> Tambaqui Purrudo;
          • Tubarão ~> Curimaté que Mata;
          • Tubarão II ~> Curimaté que Mata... Denúvo!
          • Titanic ~> Narfrágio do Fé em Deus IV;
          • Epidemia ~> Mina de Curuba;
          • Máquina Mortífera ~> Jegue Matador;
          • Fantasma ~> Ui Visagi!
          • Querida Encolhi as Crianças ~> Mulhé os Bacurís tão Gitiiinho;
          • Corra que a Polícia Vem AI ~> Te Abicora que os Homis tão na Ilharga;
          • Priscila a Rainha do Deserto ~> Bando de Bicha Alegre;
          • As Margens da Loucura ~> Na Ilharga da Duidera;
          • Tomates Verdes Fritos ~> Mandioca Escruta e Rançosa;
          • Rio Babilônia ~> Igorapé Pervetido;
          • Amor Selvagem ~> Trepada no Maracapucu;
          • Poço das Vaidades ~> Olho Dágua Cheio de Pavulagem;
          • Splash uma Sereia em Minha Vida ~> Ispraxiii Minha Mulhé é Curimatá.;
          • A Gaiola das Loucas ~> Arapuca de Fresco;
          • 9 1/2 Semana de Amor ~> Um Monte de Trepada!
          DICIONÁRIO AMAZÔNIDA E PARAOÁRA


          • INTÉ: até logo, até depois;
          • AFULUTADO: com defeito;
          • LADEIRA: descida, rua incinada;
          • MARCA O BREGA: Dançar;
          • AVIA NA TABERNA: fazer compras;
          • FAZER UM AVUADO: almoçar/jantar;
          • TO NA BROCA: To com fome,
          • ARRENTI FUMU: Nós fomos;
          • DESDE ENTONCES: Desde ante-ontem
          • AÇAÍ DE 10 REAL: pessoa grosseira;
          • DU GRUSSU: Polpa de açaí em estado pastoso, com pouca concentração de água.
          • PÃO CARECA: pão francês, cacetinho;
          • PAPA-CHIBÉ: paraense autêntico, não troca seu pirão de água com farinha e umas boas cabeças de camarão;
          • PIQUINUZINHU(A)/ZINHU(A): pessoa inXirida, chata;
          • APRESENTADO: Atrevido;
          • PIRA - brincadeiras infantis, ferimento causado por má higiene, sarna;
          • PISA: uma surra, várias palmadas no muleque;
          • PITIÚ: cheiro característico de peixe, ovo, catinga, mal cheiro;
          • EMPERIQUITADO/EMPARFELADO: Bem-vestido.
          • PÔPÔPÔ: embarcação típica composta por um a canoa coberta, movida a motor de pôpa;
          • SÓ-TEDIGO-VAI!: por sua conta e risco;
          • TITíA(O): tia(o), irmã(o) do pai/mãe;
          • TUÍRA: pó da pele de quem não toma banho direito;
          • XIRÍ: Orgão genital feminino;
          • CABAÇO: Pessoa que nunca teve relações sexuais.
          • ERÁS: Poxa vida;
          • ÉGUA: vários significados, expressão: de decepção, de felicidade, de susto, Putz, Ôôche;
          • CHOPE: sacolé, geladinho;
          • CHIBÉ: Mingau de farinha.
          • ESBANDALHAR/ESCANGALHAR: quebrar;
          • PAIDÉGUA/: ótimo, supimpa;
          • CATITA: pequeno roedor, pessoa curiosa, fofoqueira;
          • CASA DE FUNDO: Barraco;
          • VAI PRA BAIXO DA ÉGUA: desejando o mal
          • ARREDA AÍ: afastar-se ou afastar algo
          • ENCARNAR / CASSOAR/IMPREGNAR/ARREDANDO/FRESCANDO/APORRINHAR: pertubando, zoar;
          • DIZQUE: uma ironia;
          • ATRAPALHADO: cabelo embaraçado;
          • TÔ CAGADO?: epressão para "não ta me vendo?", é cego?
          • VARÊIA: depende;
          • LEVOU DESTEMPERO: já era, se deu mau;
          • SÓ-TEDIGO-VAI!: expressão que mães usam para brigar com filhos desobedientes;
          • TE ACÓCA/COCADO: te abaixa, abaixado;
          • MÁ CUMO INTÃO?: expressão de dúvida, "me explique por favor!"
          • EU CHÓÓRO!: expressão de despresso, "não tô nem aí pra tí!", "te vira!, "dá teu jeito!".
          • O PAU TE ACHA!: toma cuidado!
          • ESPINHAÇO: coluna;
          • ULHA MAS CREDU/AXII MAS CREDU: expressão de nojo, sai fora, que horrível;
          • EU HEM?: Tô fora!;
          • FARINHA BAGUDA: Farinha de mandioca grossa.
          • OLHA JÁ/OLHA LÁ: expressão que indica que deve ser mentira;
          • JÁ MEVÚ: estou indo embora, adeus;
          • PAVULAGEM: cheio de frescura, metidez;
          • TÉ-DOIDÉ: tu tá doido é, Quando alguem fez algo inusitado;
          • BAFO DE ONÇA: Mau-hálito.
          • PANELINHA: grupo de amigos;
          • LEVOU LARGURA: teve sorte;
          • BUSTELA: meleca;
          • GRANADO/BARÃO: cheio de dinheiro, rico;
          • MÁ-RAPÁ!/IÉÉ!: expressão de afirmação, e não é que é?
          • VUMBÓRA/BÓRIMBÓRA: vamos embora.
          • BORA LOGO: se apresse!
          • MALACO/OS "ME ROBA": ladrões;
          • XARLAR: passear;
          • ABICORAR/TE ABECÓRA: ficar atento, escolher um local para o início do jogo de peteca, começar o jogo;
          • NOIADO: Bebado, drogado;
          • PASSAR O SAL: ato de transar/sexo, salgar;
          • VUCA: muita gente, aglomerado;
          • PIPO: chupeta;
          • PETECA: bola de gude;
          • CANGULA/CURICA: uma pipa menor;
          • PAPAGAIO/RABIOLA: pipa;
          • MANINHO: Amigo, colega, um jeito de chamar um rapaz;
          • PIRENTO: pessoa que tem sarna/pira, mameira de chamar um conhecido;
          • CURUBA: Ferida;
          • DÁ UMA FORRA: Retribuir um favor.
          • PASSA OS PANOS: da uma olhada, observar;
          • TORÓ/CAIU UM BAITA TORÓ: grande chuva, chuva torrencial;
          • NA VERA: valendo.
          • RASGA: saí daqui, vai embora;
          • FILHO DUMA EGUA: filho da mãe, falar mal;
          • ALOPRADO/TU ALOPRA: pessoa que apela, esparrento;
          • HUM TÁ, CHEIROSO!: expressão de ironia, igual a conta outra.
          • MERDA NÁGUA!: sem vontade própria, "maria vai com as outras";
          • RALHAR/TE RALHOU: brigar, repreender
          • COQUE/LEVOU UM COQUE: cascudo, soquinho na cabeça;
          • TÁ RALADO: expressar algo que está difícil de ser realizado.
          • VAI DANÇAR UM CARIMBÓ JÁJÁ: vai levar uma surra.
          • JÁ QUER: quando a pessoa esta interessada em outra
          • QUEBREI A GAROTA: ato de beijar, vou ficar com ela;
          • ESCANGALHEI com A GAROTA: ato de fazer sexo;
          • MARMOTA: situaçao ou algo que nao se compreende, fora de ordem ou bagunçada;
          • CAMETAZINHO: Peão, típico cidadão do interior que fala vumbora, sumanu;
          • FACADA: algo de custo elevado, com preço alto;
          • APLICAR/APLICA NA JUGULAR: alguém está tentando enganar, contato mentira;
          • ARRIAR UM PAPO/APLICAR NA GAROTA: paquerar alguem, manicar, baixar um papo;
          • POMBA LESA: alguém meio desligado, bocó.
          • TO NA GRADE: esperando a vez de jogar, na reserva;
          • VASQUEIRO: Indica rios que possuem poucos ou nenhum peixe, ralinho;
          • ÔBA!: bom dia
          • DEU BUGUI-UGUI: passar mal com bebida/droga;
          • AGORA LASCOU-SE: agora deu em merda, vou me dar mal;
          • DISPRÉ/CHING-LING/PEBA: algo ruim, vergonhoso
          • CARAMBELA: cambalhota, girar no chão.
          • BOLO PODRE: Bolo de tapioca
          • LÁ NO CANTO: na Esquina
          • TEBA/PORRÚDO/GRAÚDO: algo bem grande.
          • MIÚDO: algo bem pequeno.
          • TÔMALHE/PÉGATI: bem feito, mereceu o mal;
          • BORÓ: dinheiro trocado, em valores pequenos;
          • PISSÍCA/FAZER PISSÍCA: má sorte, torce contra;
          • ÉÉÉÉGUA! TA LESO?/TÁ AVUADO: deixa de ser doido! desligado;
          • GALO: jogo da velha;
          • GALA-SECA: só fala besteira;
          • ASILADO(A)/TÁ NO CARITÓ/TA NA PEDRA/NA SECURA: pessoa que já está há muito tempo sem relações sexuais.
          • EMBRULHA/TE EMBRULHA: coloque o cobertor
          • APERREAR/NÃO TE APERREIA/NÃO SE AFUDEGUE: acalme-se;
          • TE MANCA: Ponha-se no seu lugar, respeito;
          • PECONHA: faixa de tecida usada nos pés para subir em açaizeiro;
          • VOU LÁ EMBAIXO: ir ao comércio, ao centro
          • SINAL: semáforo de transito
          • CABOQUICE: com comportamento interiorano, fazer algo que seja considerado "brega";
          • CABOCÔ: pessoa matuta ou vindo do interior;
          • CANJICA: Curau de milho verde.
          • BACURÍ/BACURIZINHO: filho, menino;
          • IGARAPÉ: Córrego, riozinho;
          • ILHARGA: Lado, quadris;
          • CRUZETA: cabide, pendurador;
          • POTÓCA: mentira inofensiva para contar vantagens
          • TÁ AVACALHADO: sem ordem, zueira;
          • COISA: vários significados: verbo, advérbio, pronome, preposição, artigo. Coisou a coisinha. Que aquela coisa ali, para eu coisar nela.
          • JÁ ESTAIS NO TEU MOMENTO: Quando alguém faz algo que chame a atenção ou tá paquerando.
          • ÉRAS DE TI: expressão de decepção por outra pessoa;
          • HÉBE: Égua, Caramba;
          • GRAFITE: Carga de lapiseira.
          • DIACHO: Expressão de desapontamento;
          • PELEJAR: conseguir algo com sacrifício;
          • RAPIDÓLA: bem rápido, rapidíssimo;
          • LOTADO/BONDE LOTADO: cheio, alomerado;
          • TOPADA/DEU UMA TOPADA: bateu o pé, topeçou;
          • VAREJERA/PLOC: prostituta, garota de programa;
          • CATIROBA: Quase puta;
          • FUGUENTA: Assanhada;
          • PIPIRA: mulherzinha, cabuquinha, china;
          • TA NA MIRA: essa é a próxima
          • DISGRAÇENÇA:
          • VISAGEM: fantasma, alma penada;
          • REBARBADO/RESPONDÃO: insubordinado, malcriado
          • ESMIGALHAR: amassar bem;
          • TÁ NO BALDE/TA NA MÃO/SELADO/TA SAFO: ok, ta marcado;
          • ESPÍA: preste atenção, olha só;
          • DONA MENINA/SEU MENINO;
          • ÉVERO/ORA SINOT: sim, é verdade;
          • MAS QUANDO: quem derá, sonhou;
          • JOGO DO CEMITÉRIO: Queimada
          • GITA/GITITA/MIÚDA/PIQUENU/PIXIXITA: algo ou pessoa pequena;
          • CALANGO/ÓSGA: lagartixa;
          • CALÇA TUCANDEIRA: Calça de pescador, calça curta/bainha alta;
          • CARAPANÃ: mosquito;
          • PÓPARÁ: Pode parar, sai prá lá;
          • PETISQUEIRO: armário, guarda-roupa;
          • TOMA UMA BREJA/CEVA: beber cerveja;
          • LEVOU O BACULEJO: foi revistado;
          • MAURILENA: fofoqueira;
          • BOCÚDO/DERRUBAR: fala demais, entregar a pessoa, delatarar,
          • VEUGI: virgem, relacionado a virgem maria;
          • ME BATO/ME BATENDO: está dando trabalho, trabalhoso;
          • ME ATURAR/ATURANDO: suportar uma pessoa chata;
          • AFRESCALHADO: meio gay, com jeito duvidoso;
          • MISERENTO: desgraçado;
          • BOMBOM: Balinha;
          • DISCAI PENOSO: Expressão para o adversário pão duro soltar maior quantidade de linha durante o laço;
          • DEU PREGO: Quebrou, enguiçou;
          • ESPOCAR: Estourar, explodir;
          • REBOLIR: Andar muito depressa, mecher.
          • MANDIOCA: macaxeira, Aipim;
          • AVUAR: Voar;
          • MARISCAR: apanhar mariscos no lodo;
          • TORREI O DINHEIRO: gastei tudo, acabei com todo o dinheiro;
          • PARA ÔS DE CASA: Para a família;
          • PINBUDO(A): pessoa lerda;
          • INTERA/VAQUINHA: Fazer uma coleta;
          • CACHULETA: Tapa na oralha;
          • TA JURURÚ: deprê, triste;
          • LANCEIRO: Negociador, malandro;
          • COCOTA: Pejorativo de música eletônica;
          • FILHENTO: Gosta de fazer filhos;
          • BAQUIADO: Doente.

          "Dicionário Papa-Xibé", Por "Raymundo Mário Sobral"



           Muitos brasileiros esperam um sotaque nordestino quando se fala em Pará, por não entenderem que o estado localiza-se na região Norte com o sotaque amazonês.


          mapa brasileiro segundo os paraenses

          DIÁRIO DO MANINHO
          Após conhecer o dicionário, verifique o uso dos vernáculos nortistas nesse relato regional:

          "Um dia eu tava buiado, pensei em ir lá em baixo comprar uns tamatás. Tava numa murrinha danada, mas criei curagem, peguei o sacrabala e fui.

          Chequei tarde só tinha peixe dispré. O maninho que estava vendendo tinha uma teba de orelha do tamanho dum bonde. O gala-seca espirrou emcima do tamatá do moço que tinha acabado de comprar, e no meu tembéim. Ficou tudo cheio de bustela… 


          Eu disse: Axiiiiiii porcaria! Mas credu!

          Não é potoca não... o dono do tamatá muquiou o orelha-de-nós-todos, mas malinou mesmo.

          Saí dalí e fui comer uma unha. Escolhi uma porruda! Égua, quase levei o farelo depois. Me deu um piriri. Também, perece leso, comprar unha do veropa. 


          Depois que melhorei do rebuliçu no bucho, comprei uns: mexilhões, cupu e pirarucú. 

          Eu disse: tava muito fiirme! mas um pouco pitiú.

          Fui pra parada esperar o busão. Lá tinha duas pipira varejeira fazendo graça. Eu pensando cum meus botões… AÊÊÊÊ! ela já quer… Hum, será ploc? Mas, veio um PAAR-Ceasa sequinho e elas entraram… Fiquei na roça, levei o farelo pessado. O sacrabala veio cheio e ainda começou a cair um toró, égua-muleke-tédoidé, pense num bonde lotado. 


          Eu disse: éguaaaaaaaa, rumbora logo.

          No sacrabala lotado, com o vidro fechado por causa da chuva, começa aquele calor muito palha. Uma velha estava quase despombalecendo. Daí o velho que tava com ela gritava arredae piquenu pra senhora sentar aí do teu lado.

          Menino disse: Hum tá, cheiroso!"

          Fonte: e-mail de autor desconhecido.

          SÓ NÓS PARAENSES SABEMOS


           Tem coisas que só o paraense, seja de nascimento ou por adoção, sabe o que é: Passar numa esquina, e salivar só de sentir o cheiro do tucupi, ou da maniçoba

           Empinar papagaio; ou fazer pacientemente, com talinhas de palmeira e papel de seda, uma curica pra os filhos brincarem. Paraense joga peteca, não bola de gude, tem seguro contra as mangas que quebram os carros, pena que não tem seguro pra cabeça, eu mesma já fui alvo delas... 

           Paraense conhece mato, marés, conta a estória do boto, moço bonito, mas com um pitiú de peixe, mas que mesmo assim, encanta as moçoilas mais desavisadas nas noites de lua cheia, não sabe o que é pitiú? O paraense sabe!... 

           Por aqui tomamos açaí pra dormir a sesta, com farinha dágua ou de tapioca, com açúcar ou sem, com charque, pirarucu ou sem nada, só ele purinho, bom que só... 

           Tomamos banho de rio, barrento como o Guamá ou a baía do Guajará, de rio azul transparente como o Tapajós, de Igarapé gelado de bater o queixo de frio...

           Somos índios, místicos, curandeiros, mas também com toda esta energia de água e mata não poderia ser de outro jeito, paraense vai ao Vêr-o-Peso, compra ervas, faz chá, garrafada, banho de cheiro, uma delícia! Curas de corpo e de alma. Somos orgulhosos por sermos assim essa mistura morena, brejeira e gostosa, por sermos autênticos, pela cultura que temos, por nosso sangue do índio que a tantos outros se misturou e que nos faz muito, mas muito especiais!

          Fonte: Cândida Maria.
          CAUSOS E LENDAS


          * O Boto: rapaz galanteador desconhecido, de roupas brancas
          * Matinta Pêrera
          * Boiúna: cobra grande;
          * Iara: Uiaram, Ipupiara, boto-fêmea;
          * Icamiaba: As Amazonas, mulheres guerreiras
          * Mãe dágua: sereia das águas amazônicas
          * Vitória Régia: Indica heróica Naiá;
          * Curupira: Menino de cabelos cor de fogo e calcanhares para frente
          * O Guaraná
          * A Mandioca: ìndia renascida "Mani oca" (carne de Mani)
          * Mapinguari: bicho semelhante a um macaco grande com apenas um olho no meio da testa e boca grande
          * Matinta Perera: um pássaro ou uma velha piadeira? assombra quem trata mal


          Vídeo - A Onda: Festa na Pororoca

          IÁRA:
           Os cronistas dos séculos XVI e XVII registraram essa história. No princípio, o personagem era masculino e chamava-se Ipupiara, homem peixe que devorava pescadores e os levava para o fundo do rio. No século XVIII, Ipupiara vira a sedutora sereia Uiara ou Iara. Todo pescador brasileiro, de água doce ou salgada, conta histórias de moços que cederam aos encantos da bela Uiara e terminaram afogados de paixão. Ela deixa sua casa no fundo das águas no fim da tarde. Surge magnífica à flor das àguas: metade mulher, metade peixe, cabelos longos enfeitados de flores vermelhas. Por vezes, ela assume a forma humana e sai em busca de vítimas.  Quando a Mãe das águas canta, hipnotiza os pescadores. Um deles foi o índio Tapuia. Certa vez, pescando, Ele viu a deusa, linda, surgir das águas. Resistiu. Não saiu da canoa, remou rápido até a margem e foi se esconder na aldeia. Mas enfeitiçado pelos olhos e ouvidos não conseguia esquecer a voz de Uiara. Numa tarde, quase morto de saudade, fugiu da aldeia e remou na sua canoa rio abaixo.  Uiara já o esperava cantando a música das núpcias. Tapuia se jogou no rio e sumiu num mergulho, carregado pelas mãos da noiva. Uns dizem que naquela noite houve festa no chão das águas e que foram felizes para sempre. Outros dizem que na semana seguinte a insaciável Uiara voltou para levar outra vítima.
          *Origem: Européia com versões dos Indígenas, da Amazônia.

          BOIÚNA:
           É uma das mais conhecidas lendas do folclore amazônico. Conta a lenda que em numa tribo indígena da Amazônia, uma índia, grávida da Boiúna (Cobra-grande, Sucuri), deu à luz a duas crianças gêmeas que na verdade eram Cobras. Um menino, que recebeu o nome de Honorato ou Nonato, e uma menina, chamada de Maria. Para ficar livre dos filhos, a mãe jogou as duas crianças no rio. Lá no rio eles, como Cobras, se criaram. Honorato era Bom, mas sua irmã era muito perversa. Prejudicava os outros animais e também às pessoas.  Eram tantas as maldades praticadas por ela que Honorato acabou por matá-la para pôr fim às suas perversidades. Honorato, em algumas noites de luar, perdia o seu encanto e adquiria a forma humana transformando-se em um belo rapaz, deixando as águas para levar uma vida normal na terra. Para que se quebrasse o encanto de Honorato era preciso que alguém tivesse muita coragem para derramar leite na boca da enorme cobra, e fazer um ferimento na cabeça até sair sangue. Ninguém tinha coragem de enfrentar o enorme monstro.  Até que um dia um soldado de Cametá (município do Pará) conseguiu libertar Honorato da maldição. Ele deixou de ser cobra d'água para viver na terra com sua família.
          *Origem: Mito da região Norte do Brasil, Pará e Amazonas

          VITÓRIA RÉGIA:
           Os pajés tupis-guaranis, contavam que, no começo do mundo, toda vez que a Lua se escondia no horizonte, parecendo descer por trás das serras, ia viver com suas virgens prediletas. Diziam ainda que se a Lua gostava de uma jovem, a transformava em estrela do Céu. Naiá, filha de um chefe e princesa da tribo, ficou mpressionada com a história. Então, à noite, quando todos dormiam e a Lua andava pelo céu, Ela querendo ser transformada em estrela, subia as colinas e perseguia a Lua na esperança que esta a visse.  E assim fazia todas as noites, durante muito tempo. Mas a Lua parecia não notá-la e dava para ouvir seus soluços de tristeza ao longe. Em uma noite, a índia viu, nas águas límpidas de um lago, a figura da lua. A pobre moça, imaginando que a lua havia chegado para buscá-la, se atirou nas águas profundas do lago e nunca mais foi vista.  A lua quis recompensar o sacrifício da bela jovem, e resolveu transformá-la em uma estrela diferente, daquelas que brilham no céu. Transformou-a então numa "Estrela das Águas", que é a planta Vitória Régia. Assim, nasceu uma planta cujas flores perfumadas e brancas só abrem à noite, e ao nascer do sol ficam rosadas.
          *Origem: Indígena. Para eles assim nasceu a vitória-régia

          Para conhecer mais lendas, acesse: lendas folclóricas 






          PAÍS CHAMADO PARÁ
           Sou da terra onde a loja Lobrás se chamava "4 por 4" e se ia lá pra comprar fecheclair e trocar aquele que escangalhou na velha calça que fica no redengue.

          No rumo da Presidente Vargas uma parada para... a merenda no Jangadeiro:garapa e pastel eram os meus preferidos, mas uma unha ia bem, mesmo que eu me sentisse depois empanturrada, com vontade de bardear dentro do ônibus Aero Clube. 

           Às vezes o piriri era inevitável. Mal dava tempo de chegar em casa. Ahh a minha casa... Morei anos e anos na Baixa da Conselheiro e um dos meus divertimentos preferidos era pegar água na cacimba da Gentil. Sempre fui meio alesada e deixava boa parte da água pelo caminho. O balde chegava quase sem nada, motivo pra ouvir da minha avó: não te brigo nem te falo, só te olho.

           Na minha terra não se empina pipa, mas papagaio, curica e cangula, sempre olhando pra ver se eles não estão no leso e nunca deixando a linha emboletar. Depois do laço, a comemoração, maior ainda se cortou e aparou. Se perdeu a frase inevitável: laufoiele. Era um segurando o brinquedo artesanal feito de qualquer papel, enquanto o outro gritava de longe: larga ! E o empinador sai correndo. Não gostava dessa função, sempre me abostava e os meninos eram implacáveis: cheira lambão, a velha caiu no chão e depois ainda me arremedavam... Peteca ou fura-fura eram mais compatíveis com a minha leseira.

           Um triângulo desenhado no chão e dentro dele as pequenas bolinhas de vidro. Tirou de lá, ganhou a que saiu ou quem conseguia o tel. No fura-fura era essencial amolar bem a ponta do arame e sair jogando, emendando um ponto a outro sem nunca deixar que o adversário nos cercasse.

           Lá na minha terra peixe não fede, tem pitiú e quem não toma banho direito tem piché. Gostamos de ser chamados de papa-chibé, aquele que adora uma farinha e que faz miséria com ela. Manga com farinha, doce de cupuaçu com farinha, sopa com farinha, macarrão com farinha. Um caribé bem quente, ralinho serve pra dar sustança ao doente e um chibé é excelente com peixe fritinho. Farinha só é ruim quando dizem: ihhh ta mais aparpada que farinha de feira ! O pirão do açaí é quase um ritual... Pode-se usar farinha d’água baguda ou mesmo a fina amarela, mas nada melhor que uma farinha de tapioca bem torradinha.

           Depois de tomar uma cuia bem cheia (meio litro em diante), daquele um, tipo papa é inevitável deixar a mesa todo breado e empanturrado. A barriga por acolá de tão cheia. Hora de ir para rede reparadora. Uma hora de momó é suficiente pra curar aquele despombalecimento.

           A gastronomia na minha terra é tudo de bom. Se não tem pão comemos tapioquinha com manteiga ou pupunha no café, quem sabe até um bolo de milho recém-saído do forno com uma manteiga por cima da fatia, derretendo. O pão pequeno é careca e o curau, canjica e a canjica, mingau de milho. Tem gente que não gosta e ficava encarnando que esses pratos não são típicos. Preferem uma unha com bem pimenta ou um beijo de moça bem torradinho.

           Na minha infância o doce que mais consumíamos, em frente ao Grupo era o quebra-queixo. De amendoim ou de gergelim. O risco era ele cair na panela que sempre havia na boca da molecada. A dor era insuportável! Muitas vezes voltei pra casa correndo, debaixo de chuva pra colocar álcool no dente, adormecer até a panela parar de doer.– Vai na chuva mesmo? – Claro não sou beiju ! Nossa Senhora de Nazaré, pela intimidade que temos com Ela, pode ser chamada carinhosamente de Naza e a erisipela de izipla. Cabelos grossos e cortados curtos viram espeta caju e quem pede muito é pirangueiro, filho de pipira.

           É proibido malinar, andar fedorento, ser um pirento inconveniente, desses que arrancam o cascão. Embora politicamente incorreto, adoro lembrar o “carro da phebo” passando e os lixeiros invocados tendo que ouvir esses gracejos. Quantas vezes ouvi da minha avó, da minha mãe: - Só te digo vai ! ou de uma amiga pedindo para que a gente se demorasse mais um pouco: - Espere o vinho de cupu. 

           E o calendário paraense que além do ontem tem o dontonte e o tresontonte ? Nos orgulhamos de falar tu e conjugá-lo corretamente, mas quem nunca ouviu essa frase? – Passasse por mim me olhasse, fizesse que nem me visse, nem falasse.

           Esse é o meu Pará, que acolhe, que abriga da chuva, que nos enche de orgulho de ser não apenas Belém, mas Alter do Chão, Bragança, Soure, Altamira, Conceição do Araguaia, Ourém, Alenquer, Curucá, Vigia, Marapanim.


          - RUTH RENDEIRO

          Oi, licença que jamevú, inté a próxima.
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